sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Demon Days


Rapidamente, o demónio escondeu-se debaixo do cacifo. A escola estava fechada naquele dia pois tinha nevado muito durante a noite, o que tornou impossível o deslocamento pelas estradas.
Todo o edíficio estava às escuras, exceptuando os sinais de saída de emergência que davam uma tonalidade verde às paredes.
O demónio respirou de alívio e com os seus olhos brilhantes na escuridão, olhou em redor. Tinha ouvido um som no corredor, que poderia ser de algum guarda nocturno ou algum professor que conseguiria entrar na escola. Muito quieto, deixou-se ficar naquele lugar desconfortável durante alguns momentos.
"Podes aparecer, sou eu." - disse alguma coisa que dobrava a esquina.
No fundo do corredor, um pequeno ser deslocava-se rapidamente. Era um lagarto branco com os olhos encarnados vivos e tinha ao seu pescoço um pequeno medalhão com uma fechadura.
Sem dizer nada, o demónio apareceu de debaixo do cacifo e voltou à sua forma normal. Era pequeno para o comum demónio, mais pequeno que um humano, e não tinha um ar muito assustador. Talvez até um pouco patético. Mas tinha uma particularidade que o distinguia do resto da sua espécie: podia encaixar-se onde quisesse, transformando o seu corpo em fumo.
"Trouxe o medalhão. Não foi fácil encontrá-lo por isso espero que resulte. Tens o que te pedi?" - disse o lagarto sempre com um leve sorriso na cara.
O demónio pos a mão dentro de si mesmo, espetando-a no seu peito feito de fumo. Depois de remexer e procurar o seu interior, tirou de lá uma caixa. Uma simples caixa de madeira adornada com alguns contornos dourados.
Entusiasmado, o lagarto agarrou na caixa e abriu-a. Lá dentro tinha uma pedra cinzenta vulgaríssima. Depois de acenar com a cabeça e de dar ao demónio o medalhão, desapareceu tão discretamente como tinha aparecido.
Sozinhos ficaram o demónio e o medalhão no meio do escuro. Metendo de novo a mão dentro de si mesmo. tirou uma minúscula chave. Parecia que toda esta acção era algo que o demónio já tinha feito muitas vezes. Inseriu a chave e rodou-a, ouvindo-se um clique mecânico. De repente, uma intensa luz irradiou do medalhão e este abriu-se. Ofuscado pela luz, não habituado a ela, o demónio conseguiu ver um coração que pairava no ar. "O meu coração".

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Hoje fui à faculdade pois tinha marcado uma reunião com a Alexandra para tratar das minhas disciplinas. Tive medo que a greve dos transportes fosse logo de manhã e se assim fosse eu não poderia sair da minha via, ficando aprisionado em casa para todo o sempre. Mas as minhas preces foram ouvidas e autobus 727 divino apareceu felizmente. Ensonado parti assim para a faculdade. O céu estava azul e eu, com o meu impermiável, comecei a sentir gradualmente cada vez mais calor. Belo giorno.
Como cheguei cedo de mais fui até à sala dos computadores. Lá, uma italiana pediu-me ajuda para passar umas fotografias para o computador, e eu claro que neguei a ajuda. Er, ajudei-a mas ela não falava uma palavra de inglês. Calma! Eu falei com ela o tempo inteiro em italiano mas quando não me lembrava de uma palavra tinha de traduzir para o inglês. Mesmo assim ela não percebeu nada. Teve que pedir ajuda a uma outra italiana que falava inglês e assim lá lhe expliquei mais ou menos bla bla bla.
É impressionante a quantidade de italianos da minha idade que não fala inglês. Mas também não só os mais novos, como os adultos! Ficam todos encavacados quando lhes é pedido para falarem em inglês e não se conseguem expressar e ficam como os peixes balão. Pathetic. Mas também é compreensível que não falem nada para além do italiano. Ou será que não é assim tão compreensível? Os filmes são dobrados em italiano mas para além disso acho que eles até recebem muita cultura de fora... Internet, música, etc. Será que os filmes são um veículo fucral para a aprendizagem do inglês? Será que o mundo é redondo? Ou plano?.. hm.. respostas que nunca ninguém me poderá responder...
Saí então da sala dos computadores para a minha reunião. Fazendo um apanhado da situação, gostei muito das cadeiras que vou poder escolher, e nas duas próximas settimanas tenho cursos intensivos. Só dia 27 é que começo mesmo as disciplinas importantes.
Depois disso, como sempre, fui a uma loja ao pé do Duomo ver CDS, DVDS, livros, etc. Estava já com um DVD na mão para o comprar quando ouvi a minha consciência a dizer:"VOLTA ATRÁS E PÕE ISSO ONDE ESTAVA!". É claro que me assustei. Voltei à prateleira e devolvi-lhe o DVD. Não podia gastar dinheiro em dois DVDs numa semana só. Ficaria para a semana. E assim apertei a mão à minha consciência e ali mesmo, diante de toda a gente, fizemos o pacto mais importante da semana.
Tédio. Acenei ao Duomo e ele devolveu-me o aceno. Já eramos velhos conhecidos mesmo estando eu cá só há umas quase 3 semanas. Fazendo um pequeno aparte: gosto muito dele, mas já não o posso ver à frente. Por isso, estando eu farto daquelas andanças sem rumo, pus-me a caminho de casa.
É estranho estar num sítio como estes. Não falo no sentido geográfico, mas sim no sentido de que não é, ainda, a minha cidade. Começo-me a habituar às pessoas e a ouvir italiano constantemente, mas ainda não sei bem o que fazer quando não tenho nada para fazer e quando estou sozinho. Se calhar quando as aulas começarem vou ter o meu ritmo de vida, mas até lá parece tudo extraordinariamente diferente de Lisboa.
Por isto e por tudo mais, só me resta viajar. Amanhã, em princípio, parto para Florença de comboio com o Luis e João. Já me falaram maravilhas da cidade por isso espero não me desapontar.
Outra viagem que já estou de olho é a Paris! É barato e a Inês Tavares dá-me dormida. Há que aproveitar não é?

P.S. - Tenho me alimentado bem e ainda estou vivo. Não se preocupem.

1 comentário:

I N H A disse...

Grandes aventuras hein?
beijinho seu demónio raquético de fumo er